segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Adaptação ( Adaptation, 2002 )



((( Assisiti esse filme, iria escrever sobre ele mas adorei essa crítica de Ary Monteiro Jr. Ele Disse tudo que eu pensei em dizer ... Então porque não ? )))

Spike Jonze e Charlie Kaufman (o primeiro é diretor e o segundo roteirista) são os dois malucos que cometeram o bizarro Quero Ser John Malkovich, um dos melhores filmes sobre titereteiros e troca de identidades já feitos. Espere um pouco, acho que não existem muitos filmes sobre titereteiros por aí então é o melhor filme sobre titereteiros e pronto. Em Adaptação eles repetem a dose e comprovam porque são considerados alguns dos mais originais artistas atuando em Hollywood no momento.

O filme conta a história de um roteirista, o próprio Charlie Kaufman (vivido na tela por Nicolas Cage), que é contratado para adaptar um livro sobre orquídeas de uma jornalista (vivida por Meryl Streep, que ganhou o Globo de Ouro por sua atuação). Sem inspiração e com muita dificuldade de adaptar um material aparentemente impossível, ele decide finalmente escrever um filme sobre um roteirista que não consegue adaptar um livro para um filme, usando o livro dela como base. Mas o grande detalhe é que essa história é verdadeira, é a história do próprio filme Adaptação! A escritora, o personagem que ela retrata no livro, além obviamente de Kaufman, são todos pessoas reais que viveram o que está na tela numa muito bem escrita e encenada brincadeira de metalinguagem. Até imagens dos bastidores da filmagem de "Quero ser John Malkovich" foram usadas no filme.

Mas nem tudo é real em Adaptação, o autor tomou várias liberdades: a escritora e o personagem dela, um botânico desdentado vivido por Chris Cooper (irreconhecível, Oscar de ator coadjuvante por esse filme), nunca tiveram um caso. O irmão gêmeo de Charlie, Donald, também é fictício apesar de até no cartaz estar escrito "roteiro de Charlie e Donald Kaufman"! Brincadeiras à parte, Donald representa o outro lado de Charlie, o lado que precisa se vender para ser bem sucedido na indústria de cinema americana.

O filme tem momentos divertidos, tensos e melancólicos, além de um show de atuação de Nicholas Cage, que consegue criar duas personalidades bem distintas para os irmãos. A montagem é digna de aplausos, deve ter sido um purgatório para compor tantas camadas de história sem perder a linha, além das cenas em que Cage atua com ele mesmo. Porém, a narrativa, com situações acontecendo em épocas diferentes o tempo todo e as viagens do diretor (o filme até tem um micro documentário sobre evolução do planeta Terra!) deixam o espectador atordoado e beiram ao excesso. Talvez Jonze tenha complicado as coisas um pouco demais sem necessidade, mas tudo se encaixa e no final a experiência vale a pena, só tenho certeza que nem todo mundo vai ter paciência para embarcar nela.

Em muitos aspectos, Kaufman foi bem sucedido em estabelecer uma relação entre a arte de adaptar um texto, a característica de adaptação das espécies e a capacidade que temos de nos adaptar às novas situações que a vida joga na nossa frente. Adaptação é um filme sobre isso, em vários níveis, o que o torna um pouco mais profundo, apesar de na realidade ser apenas uma grande brincadeira com cinema. Brincadeira inteligente, vale lembrar.

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