segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ICTUS E ÉSQUISO

Uma amizade que ajudou valer meu 2010
Zé Ricardo Passeti! (zepa) http://www.myspace.com/3intragaveis
Músico talentoso, Poeta de pensamento engrandecedor!
Pessoa "cara" e rara.
O texto é de total autoria dele e fizemos juras de continuar o diálogo entre os personagens criado por Zepa.

ICTUS E ÉSQUISO (PRIMEIROS DIÁLOGOS) Capítulo I reflexões sobre a dança

ÉSQUISO – No primeiro momento percebi que você ia dizer algo, depois disso, enquanto eu achava que você iria dizer, já estava ouvindo o que dizia. Mas tudo isso de modo tão natural e corriqueiro que chega a ser estranho alguém comentar isto. Porque quando pára pra falar o que é, não adianta mais.

ICTUS - O impulso, o ato de jogar-se ao espaço contido no futuro próximo. Não é mais do que acontece agora enquanto digo o que já sabe. Enquanto te modela dos pés ao centro da terra este tempo desconhecido. Planto o vôo do pássaro (e não o pássaro) no ar que está contendo. O vôo é sem tempo, não o pássaro. O pássaro é sem tempo de outro jeito. O pássaro pousa, não o vôo. O vôo permanece em curso ainda que o tempo o modele como queira. O pássaro pousa. O pássaro parado engendra o vôo, está grávido de vôo. O vôo permanece em curso ainda que o tempo o modele como queira. O pássaro pousa. O pássaro parado engendra o vôo, está grávido de tempo. O vôo é sem tempo, não o pássaro.

Mas por que razão estaria o pássaro grávido da vontade? O vôo é a ele inerente e, no entanto ainda se prepara, e cresce e nasce e morre e renasce e remorre e paralisa no tempo. Deixa essa coisa implacável que é o tempo te modelar, como se modela uma coisa modelável. A ocorrência indelével do tempo a transcorrer, dinamizando tudo o que é, tudo que ele próprio fabrica (em sua condição de deus), transformando-te em estátua, em rocha.

Mas não de qualquer jeito. Antes, rocha implacável, rocha viva, o vôo. Vivo de novo. Vive de dentro.

ÉSQUISO - Engraçado é que enquanto você dizia tudo isso tive a sensação de que, por um instante, construía-se a nossa volta um grande abismo, infindável. Porque para saber o que dizia tive de cristalizar o tempo para fazer sentido, sabe? Sendo assim, tivemos que ir, eu e você, para um lugar onde tudo estava. Lá não havia nem espaço e nem tempo. Não estávamos nem lá e nem aqui. Não estávamos nem quando. Não éramos. Somos agora apenas um amontoado de palavras, se existimos, então existimos apenas enquanto literatura. Somos seres imaginários que têm consciência de assim serem.

ICTUS – Falo disso também, Ésquiso. Tudo está contido nos sentidos daqueles que nos lêem, ou nos vêem, ou nos ouvem, ou que nos imaginam. O que, na realidade é fabuloso. Porque em todos esses sentidos (ou coisas, as quais chamamos verbos) implicam numa espécie de transformação de um “código” a outro e, para isso, todos vão para esse lugar que dissera você ainda há pouco : sem quando, sem onde, sem porquês. Sem nada, onde é possível nascer.

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