domingo, 26 de junho de 2011

Investigando Deus - Joao Paulo Domingues

Deus existe?
Toda vez que um professor de biologia ex-plica a teoria da evolução, esbarra na problemática da existência ou não de Deus. Uma esmagadora maioria dos seres humanos aceitou o pressuposto de que a teoria da evolução e a existência de Deus são eventos completamente antagônicos. Ou existe um, ou existe outro. Mas se Deus criou o macaco, o ornitorrinco, o uirapuru e o vírus ebola, por que não criaria o processo evolutivo, que é algo muito mais sofisticado e digno de Sua inteligência?


Acreditar em Deus é algo que está tão presente na vida das pessoas, que o ateísmo é ainda tratado como uma anomalia psicológica ou moral. Ser ateu, portanto, é o mesmo que possuir um defeito na personalidade, e costuma ser visto como algo demoníaco - mesmo que os ateus não acreditem na existência do capeta. Para nós, humanos, qual é a vantagem de Deus existir? O que a crença em Deus pode melhorar em nossas vidas? Ter mais esperanças, talvez - partindo do princípio de que o poder dos céus sempre poderá intervir em nosso favor?


Se tem um ponto onde Nietzsche e os marxistas se encontram é na denúncia de um caráter perverso e escravizador das religiões. Os desígnios de Deus já foram desculpa para inúmeras barbaridades cometidas pelo homem. Instaurar um ambiente de medo e de insegurança para tirar proveito dele foi a estratégia aplicada na Idade Média e também pelo governo Bush. O Afeganistão e o Iraque foram invadidos e ocupados pelos Estados Unidos na esteira de uma ameaça externa e da instauração de um clima de terror entre a opinião pública americana.


Eu não sei se Deus existe. Suponho que possa existir. Até torço para que exista, pelo menos em sua versão de Pai piedoso, que traz alívio para os infortúnios do mundo. Mas se Ele existe, creio que se trata de uma forma de existência tão complexa (ou distinta deste aglomerado de carbonos que somos nós), que escapará eternamente de uma compreensão possível pelo cérebro humano.


Por que será que em uma sociedade tão problemática, interesseira, corrupta e inescrupulosa quanto a nossa, insiste-se, mesmo entre as classes dirigentes, na ideia de Deus como algo inexorável e imprescindível para que a vida tenha algum sentido? Não é uma contradição? Vivemos aos tapas em meio às atividades mais simples do quotidiano, locupletamo-nos de todo o tipo de exploração e desfaçatez - mesmo quando o que está em questão é o amor, ou coisa parecida -, e depois apelamos para que Deus interceda por nós. Se eu fosse Ele, não intercederia.


Se Deus existir, deve estar cheio de ver seu nome usado para os mais diferentes fins, geralmente relacionados à opressão, ao lucro e às mais perversas estratégias de sedução. Se Deus for mesmo um “cara” legal, não deve concordar nem com a Al Qaeda, nem com o puritanismo falso dos americanos e nem com um pastor que eu ouvi estes dias, que pediu para todos orarem para que uma fulana de tal, sua ovelha, fosse aprovada no vestibular. Ouvi isso da rua e não me contive.


Fui perguntar para a assessora do pastor se ela não achava que Deus faria uma baita sacanagem colocando a fulana na lista de aprovados e tirando alguém que ralou pra ca-ramba (estudando) para conseguir a vaga. Espero, mesmo, que Deus exista. Não aquele ser castrador, que castiga com bolas de fogo. Ele pode ser outra coisa bem mais resplandecente de sentido.


Todos os dias, quando saio do trabalho, vou caminhar na zona rural de Piratininga. Lá existe uma brisa leve, que bate em meu rosto, e que me proporciona a sensação sublime de eu me ver por fora, como objeto de mim mesmo. Tenho conseguido sentir essa sensação mesmo quando não estou lá. Isso me permite ter uma visão tranquila e natural do que devo fazer de melhor para mim e para os outros. É algo que me parece muito mais plausível e Divino do que qualquer promessa ou ameaça.

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