quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Michel "Idealista" Leme.








Michel Leme opinando sobre Milton Nascimento / post no Facebook.


o Milton Nascimento é, na minha não-pedida e modesta opinião, um talento bruto e honestíssimo, a favor do som, tanto é que chamou quem chamou pra tocar nos seus discos (ver quem http://worldmusiccultura.blogspot.com/2010/07/milagre-dos-peixes-lv.html)- ao contrário dos merdas que preferem gravar com máquinas ou com seres humanos incapazes de tocar música de fato, mas que estão ali por conveniências além-som como politicagens e etc. (como acontece em vários trabalhos que têm uma certa exposição na mídia, e grana envolvida, não é?).


O problema para a nossa classe, que toca música honesta, pela arte e pelo prazer de tocar, e que não se vende à lógica da mercadoria, são outros, como a falta de lugares decentes para tocar música de fato, o fato de estar relegada ao gueto etc.


Mas o que quero destacar aqui é apenas um desses problemas: a colossal inversão de valores que acontece em razão dos meios difundirem pseudo-artistas que fazem uma música toda ensaiadinha, inofensiva e "alto-astral", como se tivessem sido concebidos como fruto de uma terrível brochada de seus pais - são os fazedores da música morna que não desperta nada em quem ouve além de uma sensação de que "ok, está tudo bem" -, como REPRESENTANTES DA MÚSICA INSTRUMENTAL (ou chamem de "jazz brasileiro", "jazz" ou qualquer outro rótulo estéril desses).


A existência ou a expressão artística de seres mornos é um problema? Não! O problema é o que causa a exposição (pensada e planejada) de apenas um grupinho ou um "artista", de forma que sejam considerados como representantes de todo um gênero nos meios. E, claro, o sistema os apóia e os catapulta - o que é medíocre tem todos os quesitos para ser instituído -, instituindo assim um único modo de se fazer música. O que é de se admirar, pois essa imposição de uma estética (ou visão) única acontece até no ramo da música instrumental, mesmo que movimente menos grana do que outros gêneros mais massificados. Mas o sistema não deixa passar, tem grana aí também...


Esta visão única impõe, então, que "A" maneira de se fazer música deve ser branda, sem momentos de pico ou intensidade (ou, traduzindo-se, vida), ou mesmo com o risco de fazer as coisas acontecerem realmente na hora - o que poderia gerar erros e/ou situações que mostrariam que é possível estar vivo e ser criativo pra fazer música. Reparem: a música instrumental instituída, a que tem espaço nos meios é, apenas e tão somente, a que não tem vida, completamente inofensiva, feita "para boi dormir". E não darei nomes, porque não combato pessoas; combato idéias. E o ponto central do que escrevo aqui é levantar a discussão sobre essa idéia nefasta que se traveste a cada época - e que vem ganhando cada vez mais força - através de uma pessoa ou grupo.


E os sintomas disso estão aí, só não vê quem não quer. Nas faculdades e conservatórios, por exemplo, o sintoma dessa morte da música instituída aparece quando - um dos vários exemplos relatados a mim mesmo sem que eu pedisse; os caras simplesmente querem e precisam desabafar... - um aluno de bateria dá uma pratada mais forte e é repreendido aos gritos, como se tivesse metralhado uma inofensiva velhinha vendedora de maçãs... Ou seja, a dinâmica da música agora, no Admirável Mundo Novo, vai apenas de 'pianíssimo' a 'piano'. Estão educando os caras para que sejam apenas servos de restaurantes ou mausoléus (nada contra quem toque nesses lugares, mas a música não é so isso). E os bares e afins que dizem ter "música ao vivo" ou que se dizem "casa de jazz", também exigem do músico que a música seja tocada apenas como pano de fundo para conversas. Então, nós, músicos, devemos mesmo aceitar que O MUNDO É UM IMENSO RESTAURANTE "FINO"?????


E, fato, sobraram poucos, mas ainda bem que nem todo músico tem medo de tocar o que sente; e ainda bem que nem todo músico nasceu pra ser bunda-mole, escroto e vendido como estes oportunistas de merda que aceitam ser os "queridinhos da visão única".


http://www.michelleme.com/home.asp
http://blog.michelleme.com/
http://www.myspace.com/michellemeguitarist

4 comentários:

Michel disse...

Amigos do World Music & Cult,

Em primeiro lugar, gostaria de situar o leitor que possa se interessar por essa declaração que vocês copiaram de um comentário que fiz num post do baixista e amigo Thiago Alves no facebook: houve uma polêmica em torno do Milton Nascimento e opinei a respeito, já levando a discussão para uma área mais útil do que simplesmente falar de uma pessoa. Esse foi o contexto.

Em segundo lugar, dispenso o "idealista" no meio de meu nome neste post do blog. Não sei qual foi a intenção, mas pergunto: porque "idealista", e porque entre haspas?

Não sou um admirador de rótulos e menos ainda os que vêm com o sentido dúbio que as haspas podem dar. E nada contra críticas ou elogios, desde que haja uma argumentação clara justificando-os.

Obrigado,
Michel

World Music and Cult disse...

Olá Michel,
achei interessante a discussão sobre o "Milton Nascimento" no face, e antes de postar a sua opinião eu coloquei um aviso que se tratava de uma conversação no post do face. Esta lá.

Achei sua resposta interessante, por isso postei no meu blog junto com os teus links da net. Esta lá.

O porque das haspas: quis deixar dúbio mesmo, pra cada um ler e tirar suas conclusões.
Se ser Idealista, for arremeter a forma de ditadores sul-americanos, prefiro que não usem esse termo.
Mas se idealista for arremeter a alguém que ainda crê que cenários ruins possam vir a ser melhores, então acho interessante!!!.
Agora se idealista for alguém que acredita que tudo tem que ser ( ou vá um dia ser) perfeito, acho melhor não ser idealista.
Idealista talvez seja uma palavra "too much use" e de vários valores. Depende de quem lê.
Mas entendo sua preocupação.

Michel disse...

Obrigado por responder.

A interpretação de várias coisas fica a cargo de cada um, claro, mas a linguagem escrita pode passar uma idéia mais exata do que se quer dizer. Respeito sua postura e entendo o que diz. Tranquilo.

De minha parte, digo que estou apenas trazendo uma discussão e expondo meu ponto de vista com base em dados, ou seja, quem faz música sem querer adequar-se, sem se vender à lógica do capital, está totalmente fora do joguinho da mídia e deve se virar nos guetos. Por outro lado, quem faz uma música inofensiva e sem arestas, sem correr riscos e mostrando uma visão de mundo "Hello Kitty", ou seja, "está tudo bem, podem continuar pagando seus impostos de boca calada, seus merdas" tem todo apoio e festejos dessa mídia vendida e asquerosa.

O fato de eu me manifestar no seu blog se deve ao fato de eu crer que um meio como este ainda está livre do jogo de interesses dos grandes jornais, tvs e, enfim, os alto-falantes do sistema, e, portanto, ainda tem condições de oferecer honestidade para quem o visita - como, por exemplo, este nosso diálogo. Então, por isso, fiz questão de levar esse papo: aqui e em vários outros blogs - uma das formas do "gueto" a que me refiro - ainda há vida, ainda há a oportunidade de trocar idéias abertamente; o resto (as mídias convencionais) está morto, porque fundiu-se à lógica da mercadoria - e as pessoas continuam dando crédito e muita grana a esses mortos...

Abraço,
Michel

World Music and Cult disse...

Eu li um livro que chama Homo Videns de um jornalista Italiano (Giovani Sartori) e achei muito interessante, apesar dele não citar especificamente música mas ele denucia o empobrecimento do pensar, atravéz de nossa geração de muitas imagens e poucos conceitos.
Enfim ... Sei que o tema é complexo e que na música (na arte)pode ser mais ainda.
Eu confesso que fiz o caminho reverso, me apeguei ao jazz e a música instrumental cedo, com 13, 14 anos. Já fui mais xiita no que se refere ao Jazz ( que esta diretamente ligado ao intrumento como extenção do nosso corpo e da nossa alma). Ainda prefiro o mais tradicional dessas expressões.
Até confesso que nem gostava de Milton nascimento, até que eu me interessei por poesia, E vi que ele é quem é por que ele é um instrumento pensante que transcreve sentimentos *(poesia).
O clube da esquina foi um juntado de pessoas que pensavam e sentiam igual, e isso, praticamente se acabou, restanto apenas algumas raras exeções em determinados focos expressivos de verdadeira arte.
E o Pat viu isso tudo, o Herbie Hancock também!
Se eles enchergaram isso no Milton e a sua Gig, não temos mais nada a dizer.
Enfim, que viva a verdadeira arte, ainda que nos becos, catacumbas e guetos!
salve Michel, Sansão, Thiago e Cassio.

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